terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Verdade Varrida pra Debaixo do Tapete

Segue um texto muito interessante da Larissa Beppler, postado no seu blog http://larissabeppler.wordpress.com/


Impressionante é a incoerência da mídia esportiva brasileira.
Em 2005, quando nada relacionava o árbitro que aceitou suborno de casa de apostas ao clube campeão, ninguém teve esta seriedade, “imparcialidade” ao tratar o assunto. Estigmatizaram o clube vencedor quando todos julgaram por bem que as partidas manipuladas fossem anuladas e remarcadas. Bastou o Corinthians vencer os dois jogos em que havia mesmo sido prejudicado anteriormente, para todos mudarem de idéia e afirmarem que o campeonato havia sido manchado, manipulado.
Em 2008, quando o clube que venceu afirmou presentear autoridades do futebol, numa relação promíscua, quando o presidente da Federação Paulista de Futebol afirmou: ‘Alguém do São Paulo tentou enviar um envelope ao juiz’, quando a CBF, contrariando o Estatuto do Torcedor, afastou o árbitro da partida, embora tenha mantido os bandeiras (um deles responsável pela não-marcação de um impedimento de mais de um metro!), a mídia inteira propaga que o São Paulo é o campeão incontestável, mesmo tendo o vice, Grêmio, permanecido na liderança pelo maior período de tempo.
Mas, não basta só isentar o São Paulo ou consagra-lo, os imprensaleiros vão além:
Emissoras de Tv, em seus sites oficiais, limitaram perguntas e comentários, uma delas, aceitou 350 comentários em seu blog matinal, todos de tricolores e simplesmente vetou os comentários contra o clube e o campeonato.
Estão transformando um provável caso de corrupção generalizado num simples mal entendido. É o jeitinho brasileiro de ser.
Se fala em campeão incontestável, mas não se menciona dados interessantes como o publicado em um blog por um Assessor Mercado da NET que contou:
“Desde ontem após o jogo do SP até hoje ao meio dia, portanto 18 horas aproximadamente, a NET e a SKY registraram juntas 11.239 pedidos de cancelamento dos pacotes PREMIERE FUTEBOL CLUBE e demais relacionados. Os 11 pedidos que atendi pessoalmente, 10 se disseram enganados, que pagaram o ano todo por um produto corrompido. Tais números são internos e nenhuma empresa divulga MKT contra, mas como além de trabalhar aqui, possuo caráter, achei bom divulgar o quanto o povo brasileiro está desacreditado do futebol. Ano passado no mesmo período tivemos pouco mais de 320 cancelamentos no Brasil todo.”
O próprio Estatuto do Torcedor refere que:
Art. 32. É direito do torcedor que os árbitros de cada partida sejam escolhidos mediante sorteio, dentre aqueles previamente selecionados.
§ 1o O sorteio será realizado no mínimo quarenta e oito horas antes de cada rodada, em local e data previamente definidos.
Mas ninguém deu a menor atenção a isto. Nenhum meio de comunicação se manifestou sobre tal.
É preciso se reportar ao Sul do país, provavelmente por ter sido o local mais prejudicado, para encontrar um texto de indignação publicado num importante veículo de comunicação. Foi o que aconteceu no Jornal Zero Hora de Porto Alegre, na coluna de Paulo Santana, confira:
“Terminou ontem um campeonato nacional malcheiroso.
Na última rodada, segundo manifestação da própria CBF, havia uma manipulação armada para garantir resultado no jogo entre Goiás e São Paulo.
Em síntese, o São Paulo tomou todas as providências para ser campeão. O alvo era o árbitro Wagner Tardelli e foi atingido no âmago.
Não foi a CBF que constatou a manipulação. Foi a Federação Paulista. Embora não tenha sido esclarecida a manipulação, do episódio brotaram as evidências de que a urdidura partiu do São Paulo.
Como tanto adverti no rádio e na televisão e uma vez nesta coluna, a troca de mando de campo do jogo do Goiás contra o São Paulo foi imoral.
Obrigou-se o Goiás a jogar em Brasília, onde ontem 95% da torcida era favorável ao São Paulo. Uma vergonha!
Nunca vi uma troca de mando de campo prejudicar um terceiro, no caso o Grêmio, e favorecer vergonhosamente um segundo, no caso o São Paulo. Sem punir o faltoso, o Goiás.
Uma vergonha.
Caiu do céu para o São Paulo o jogo marcado para Brasília: nas duas últimas rodadas, o time paulistano jogou em “sua” casa, no Morumbi e, ontem, no estádio do Gama. A troca foi feita para garantir ao São Paulo dois locais propícios para sua festa.
Onde estão a igualdade e o equilíbrio do campeonato?
Outro absurdo: ao constatar, por notícia do Ministério Público e da Federação Paulista, que tinha havido manipulação de resultado na rodada final, junto ao árbitro, a CBF trocou o juiz e não trocou os bandeirinhas escalados.
Se a arbitragem tinha sido manipulada, os bandeirinhas pertencem à arbitragem. Então, como é que a CBF não trocou os bandeirinhas?
Uma vergonha.
Essa manipulação do resultado do jogo de Brasília leva o universo dos torcedores de futebol a uma desilusão.
Não foi a CBF que flagrou a manipulação, a manobra criminosa de manipulação do resultado foi levada a efeito com a CBF completamente desinformada da contaminação de seu árbitro.
E aí surge a pergunta: quantos outros resultados foram manipulados? Quantos?
Até quando vai prosseguir a barganha de jogos manipulados junto às arbitragens?
Corre uma baba cloacal sobre as arbitragens brasileiras.
A aparência é sempre de moralidade. Mas, por baixo da superfície, corre um mar de lama, clubes do Rio e de São Paulo fazem o que bem querem dos resultados, em desfavor dos otários clubes provincianos.
Isso precisa acabar. Embora, como se vê, isso nunca vá acabar.
Campeonato roubado pelo São Paulo. Tanto pelo gol anulado do Botafogo, no jogo contra o São Paulo, quanto ontem pelo vergonhoso gol de impedimento do São Paulo sobre o Goiás, que decretou o título de bandeja para o poderio financeiro do São Paulo, que manipula a seu bel-prazer as arbitragens.
Assim é desanimador torcer por futebol. Constatar-se que os resultados são mudados ao sabor de negociatas, a maioria delas de tal subterraneidade que nem de longe são percebidas pelas torcidas e pela imprensa, constitui-se numa tragédia incomparável para o esporte.
O São Paulo tinha de ser o campeão. Precaveu-se contra qualquer azar ou demérito fora do campo.
Tristemente decreta-se num lodaçal que o campeão é o que tem mais dinheiro e pode comprar quem ele bem quiser.”
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É por isso que a frase da semana é a antiga e cada vez mais atual constatação de Rui Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto.”

** O torcedor brasileiro merece saber a verdade. Desde quando o SP vem influencianco as arbitragens? Até que ponto essas ações favoreceram as últimas conquistas?